Histórias

 

História de Bagé

Em 1752 Espanha e Portugal resolveram demarcar divisas entre as possessões de um e de outro reino. As forças hispânicas e portuguesas incumbidas dessa missão, ao atingirem a Fazenda de São Miguel (hoje, Município de Bagé), foram detidas pelo índio Sepe Tiaraju, em nome do lendário Império Guaranítico. Na defesa de São Miguel encontrava-se o índio Ibagé, cujo nome se transmitiu à região, originando-se daí o topônimo Bagé O Império indígena foi aniquilado, todavia, três anos depois, pelos exércitos espanhol e português, comandados pelos generais Ardonagui e Gomes Freire de Andrade.

Em 1763 a Espanha revogou o Tratado de Madri e iniciou a invasão das possessões portuguesas, conquistando, logo de início, a Colônia de Sacramento (no atual Uruguai). Em breve, o Rio Grande foi outra vez palco de guerra, invadido por um contingente de 5 mil castelhanos (vindos para a conquista do "Continente do Rio Grande de São Pedro"). Em 1773, por ordem de D. Juan José de Vertiz y Salcedo, construiu-se, para alojar as tropas espanholas, o Forte da Virgem Mártir Santa Tecla em São Miguel (a aproximadamente 7 quilômetros da atual Cidade de Bagé ).

Durou três anos a ocupação militar castelhana do território sul-rio-grandense, na faixa compreendida entre o sul do Jacuí e a Lagoa dos Patos. Com a derrota sofrida em 1776 - a tomada do Forte de Santa Tecla pelas tropas de Pinto Bandeira, depois de 27 dias de luta tenaz - viram-se os espanhóis, para continuar a resistência, compelidos a adotar a tática de guerrilhas.

Só foram definitivamente expulsos das Missões em 1801. Naquele ano, Portugal, agredido pela Espanha, entrou em guerra com este país. A luta, deflagrada entre os dois povos na Europa, propagou­-se, no mesmo ano ao Rio Grande do Sul, onde forças brasileiras reconquistaram, em rápida ação, o território das Missões, que permanecerá, daí por diante na posse definitiva do Brasil. O território conquistado foi dividido em sesmarias, sendo beneficiados os oficiais e praças que se distinguiram na luta.

Por essa época, D. João VI resolveu apoderar-se dos Vice-Reinados sul-americanos. Para tal fim, concentrou forças poderosas no sul do Império, sob o comando de Dom Diogo de Sousa. Este, a 11 de junho de 1811, iniciou a marcha sobre Montevideo, não antes de fundar Bagé e nomear um comandante para o distrito. No ano seguinte, construiu-se a primeira capela, sob a invocação de São Sebastião, elevada à categoria de freguesia durante o mesmo ano.

Progredindo sempre, a freguesia de Bagé foi declarada curato em 1814 e paróquia em 1846. Em 1850, era criada em Bagé uma segunda paróquia: Nossa Senhora da Conceição. A terceira paróquia Bageense, Nossa Senhora Auxiliadora, surgiu sete decênios depois, em 1919.

Durante a Campanha Cisplatina (1825 1828), a povoação, ocupada por duas vezes pelo exército argentino-uruguaio, sofreu danos de vulto e teve o seu templo destruído. Também durante a Revolução Farroupilha, Bagé esteve envolvida nos acontecimentos, tendo sido dominada pelos revolucionários. Em território Bageense travou-se o combate de Seival, em 10 de setembro de 1836, graças ao qual os insurretos proclamaram a República Rio-grandense.

No território Bageense (em Poncho Verde) anunciou-se, também, em 1845, o fim da Revolução Farroupilha, encerrando-se um período de dez anos de lutas fratricidas.

Formação Administrativa

Na data da criação, Bagé pertencia ao então vastíssimo município de Rio Pardo, sendo dele desmembrado e anexado ao de Piratini, desde a criação deste em 1830. Em 1846, criou-se a Freguesia e o Município de Bagé No mesmo ano, o povoado de Bagé era elevado à categoria de vila; em 1859, transformava-se em cidade.

De acordo com a divisão administrativa vigente em 31 de dezembro de 1958, o Município de Bagé compõe-se de 5 distritos: Bagé, Aceguá, Hulha Negra, José Otávio e Seival. Bagé foi Comarca pela Lei Provincial nº 423, de 22 de dezembro de 1858, com dois termos. Bagé e Santana do Livramento. Antes, pertencera como termo à comarca de Caçapava (hoje, Caçapava do Sul), na vigência da Lei Provincial nº 185, de 22 de outubro de 1850.

Pela Lei Provincial nº 779, de 25 de outubro de 1872, perdeu a comarca de Bagé o termo de Santana do Livramento, passando a constituir-se apenas do termo do mesmo nome. Nos primórdios do Período Republicano, o Decreto Estadual nº 17, de 27 de fevereiro de 1892. veio confirmar a comarca, na constituição e nos limites vigentes desde 1872.

Pelo Decreto Estadual n.º 37, de 31 de dezembro de 1892, foi-lhe anexado o termo de Dom Pedrito e, mais tarde, pelo Decreto Estadual n.º 1 524, de 29 de setembro de 1909, também o termo de Cacimbinhas (depois, Pinheiro Machado).

Os quadros de divisão territorial, de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937, e o quadro anexo ao Decreto Estadual n.º 7.199 de 31 de março de 1938, dividiram a Comarca em apenas dois termos: Bagé e Pinheiro Machado. Pelo Decreto Estadual n.º 7.643, de 28 de dezembro de 1938, a comarca de Bagé perdeu para a de Pinheiro Machado, criada pelo mesmo Decreto, o termo desse nome, voltando a constituir-se apenas de um único termo, o do mesmo nome. Na divisão territorial do Estado, em voga no qüinqüênio 1939/43 (estabelecido por esse último Decreto e confirmado pelo de n.º 7.842, de 30 de junho de 1939), compreende, a Comarca. apenas, o termo de Bagé. A mesma situação prevalece na divisão territorial do Estado, fixada pelo Decreto Estadual n.º 720, de 29 de dezembro de 1944, para vigorar no quadriênio 1945/48. Posteriormente, pelo Decreto-lei Estadual n.º 1.008, de 2 de abril de 1950, Bagé foi criada Comarca de 2 ª entrância. O mesmo ato legislativo anexou-lhe o termo de Lavras do Sul. Finalmente, pela Lei Estadual n.º 3.119, de 14 de fevereiro de 1957. Bagé era elevada a Comarca de 3.ª entrância.

Fonte: IBGE

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Charqueada de Santa Thereza - Por Hiram Reis e Silva

21/07/2011 - [11h:08m] - Geral Diminuir Aumentar

Oh homem, que tudo aniquilas e que tudo destróis, esta é a tua obra verdadeira e eterna: sangue, sangue, sangue - em toda parte sangue. Gotejam os rubros filetes nestas galerias de carnes. Minas de carnes! Carne! Carne! Por toda a parte: carne!... No vapor dos corpos dissecados correm as zorras cheias de cadáveres do lugar da matança para o da dissecação. Dentro do tórax como prisioneiros, estão acocorados os negros carniceiros por detrás das costelas que semelham grades. (...) Das trevas das tormentas fumegantes eles arrastam bandeiras de carne que desfraldam ao vento! Que empilham em montes altos como casas! Adiante, na cerca de arame farpado balouçam trapos nus, exalando vapores. Sob a ardência do sol. Corações! Corações! - agora trapos sujos! Não palpitáveis ainda ontem, no conforto da vida? Não palpitáveis ainda há pouco, na intuição da morte, corações? Andrajos sujos!...
(Harnisch - Nas Minas de Carne)

Fui convidado para realizar a palestra de abertura da Semana de Formação Continuada para os professores da rede estadual de Bagé. Foi um prazer enorme, na manhã de 18 de julho, repassar aos mestres a nossa amazônica vivência e ter a oportunidade de visitar esta bela e progressista cidade da campanha gaúcha que com os olhos voltados para o futuro não descura de seu valoroso passado. Aproveitamos a semana em que se festejam os 200 anos de Bagé para conhecer um pouco de sua história, um dos locais que mais chamou nossa atenção foi o projeto de revitalização do complexo da “Vila de Santa Thereza”.

- Antônio Nunes de Ribeiro Magalhães

O Visconde de Magalhães foi um visionário e dinâmico comerciante, industrialista e criador de gado cuja história está ligada indelevelmente ao desenvolvimento econômico do Município de Bagé. Filho de Joaquim Nunes e Joaquina Rosa de Magalhães nasceu nos Castelões de Cepeda, freguesia portuguesa do Conselho de Paredes, no dia 5 de outubro de 1841. Desde cedo sentiu a necessidade de buscar novos horizontes onde:

“pretendia dar largas ao seu gênio altamente empreendedor e ativo, sendo o Brasil o país dourado dos seus belos sonhos de criança, para o qual embarcou, contando doze anos de idade, depois de aprender as primeiras letras na escola primária de sua terra”. (Fonte: Cláudio Antunes Boucinha)

Nos idos de 1853, Magalhães, com 12 anos de idade, embarcou sozinho no Veleiro Íris, com destino ao Brasil. Desembarcou no Porto de Rio Grande onde foi contratado como caixeiro em um dos armazéns do Mercado Público de Rio Grande. Mais tarde foi trabalhar com Delabary do qual viria a se tornar sócio e algum tempo depois fundou a firma “Alegre & Magalhães” que dissolveu em 1872.

- Cronologia Histórica

1872 mudou-se para o “Pirahy”, onde constituiu a firma “Magalhães & Souza”, associado a Francisco Loureiro de Souza, operando no ramo de “secos e molhados”. Poucos anos depois, montou uma próspera empresa que fechou antes de mudar-se para Bagé onde continuou se dedicando ao mesmo ramo de negócios incorporando a ele produtos pecuários.

1881 resolve aplicar os lucros obtidos no comércio na compra e venda de gado.

1885 em 24 de novembro a Junta Comercial de Porto Alegre concedeu-lhe a carta de comerciante matriculado.

1888 em 17 de setembro foi nomeado Vice-cônsul de Portugal, cargo que ocupou até sua morte.

1893 tornou seu filho primogênito Antonio Magalhães sócio na casa de comércio, constituindo a firma Magalhães & Filho.

1894 fundou a charqueada de “Cotovelo” que foi liquidada, em 1897.

1897 fundou o “Saladero Santa Thereza” com instalações mais amplas com capacidade de abater 45.000 reses por safra. Com a intenção de expandir os negócios comprou alguns hectares a sudoeste da cidade, à margem da estrada de ferro, onde inaugurou, em 21 de fevereiro, a “Charqueada de Santa Thereza” em homenagem à sua esposa Thereza Pimentel Magalhães.

1898 inaugurou em Santa Thereza um sistema de iluminação a gás acetileno.

1899 introduziu em Bagé um lote de animais da raça Durham, importados da Inglaterra.

1901 a Charqueada de Santa Teresa possuía uma caldeira a vapor, linha férrea para transporte de resíduos, luz elétrica fornecida por uma pequena usina hidrelétrica, serraria a vapor, oficina de ferraria, tanoaria, vila operária, restaurante, armazém e padaria. A charqueada abatia, na safra, 480 reses por dia e empregava 180 pessoas.

1904 arrendou a “Companhia Industrial Bajeense”. Os dois estabelecimentos chegaram a abater, numa safra, 94.600 animais. Construiu, entre as duas charqueadas, uma avenida arborizada, a “Boulevard 16 de Outubro” e uma linha de bondes.

1906 em 01 de setembro foi agraciado com o título de Visconde de Ribeiro Magalhães, cuja carta foi dada e assinada por Dom Carlos, Rei de Portugal, no Paço das Necessidades, em Lisboa.

1907 comprou a “Companhia Industrial Bajeense” e mudou sua denominação para “Charqueada Industrial” (atual Mercosul).

1908 a Charqueada tinha instalações suficientes para abrigar mil trabalhadores, embora sua população efetiva tenha chegado a 894 empregados. A charqueada possuía sapataria, barbearias, alfaiataria e uma capela dedicada à “Santa Thereza”. Neste mesmo ano foi inaugurado o teatro Santo Antônio.

O Teatro Santo Antonio possuía seis camarins, dezessete camarotes, cinquenta cadeiras, gerais, mesa de bilhar, piano, bilheteria, copa, piano e teto com medalhões de Carlos Gomes, Donizzetti, Bellini, Auber, Ariza, Gounod, Puccini, Franchetti, Verdi, Marchetti, Feiullet, Barrou e Chopin. Havia um grupo de Arte Dramática, constituído pelos operários da Charqueada.

Inaugurou, no dia 15 de outubro, uma pequena capela em homenagem a Santa Thereza D’Ávila, cumprindo uma promessa de sua esposa Thereza. O órgão do coro da capela e todos os paramentos da capela, altar, a custódia, cravejada de rubis e esmeraldas, foram importados de Paris e o altar-mor da Bahia. O Dr. Júlio Mascarenhas de Souza foi contratado para ser o diretor do pequeno hospital denominado “Sociedade Beneficente Santa Teresa” que dispunha de uma sala para cirurgias e enfermaria. Construiu um colégio misto para 60 alunos, cujo professor era remunerado pela Intendência Municipal.

Entre a mansão dos Magalhães e a capela foi escavado um fosso em volta de uma pequena ilha onde foi construído um coreto. O fosso abrigava peixes ornamentais e o coreto era usado para a apresentação de bandas. Havia uma banda formada pelos operários da Charqueada denominada “Lira Santa Thereza”, que fazia suas apresentações no coreto e no teatro do local.

1912 vendeu “Charqueada Industrial” e“Charqueada de Santa Thereza” a “Anglo-Brazilian Meat Company Limited”.

1914 Magalhães possuía 2.200 vacas leiteiras, em Santa Teresa e na estância Rio Negro. A partir dessa criação, construiu uma indústria de laticínios, produzindo queijos, manteiga, leite pasteurizado, leite medicinal, cujo administrador era o senhor Castro Garavia.

1916 o Visconde foi um dos maiores proprietários de terras do Rio Grande do Sul. Possuía várias estâncias, seu rebanho bovino ultrapassava as 30.000 cabeças. Possuía trinta prédios em Bagé, Rio Grande, Cassino, São Paulo e Portugal além de 32.600ha em terras que lhe conferiam o status de segundo maior contribuinte do Estado em imposto territorial.

1913 introduziu 20 reprodutores puros, além de 68 ovelhas.

1923 com a falência do Visconde parte dos seus bens foram vendidos para saldar dívidas.

1926 no dia 11 de janeiro faleceu o Visconde de Ribeiro Magalhães.

- Centro Histórico Vila de Santa Thereza

Fonte: O Informativo do Vale

A iniciativa de Ierecê Belmonte Móglia em evitar a destruição de uma bonita capelinha erguida pelo português Antônio Nunes de Ribeiro Magalhães, o Visconde de Magalhães, no complexo de prédios que começou a construir em 1897 para o funcionamento da charqueada de Santa Thereza, há oito anos deu origem à Associação Pró-Santa Thereza. Seu objetivo, resgatar e captar recursos com a iniciativa privada para revitalizar a área. Localizada a sete quilômetros do centro de Bagé, no bairro de Santa Thereza, é um conjunto de grande beleza natural e arquitetônica, que deve se transformar em centro cultural e turístico até o final de 2008. Para uma das coordenadoras do projeto, Eliane Simões Pires Pacheco, a história da Vila de Santa Thereza está associada à figura ímpar do Visconde de Ribeiro Magalhães.

Ao vir para o Brasil com apenas 12 anos de idade, personagem de grande tenacidade e marcante capacidade empreendedora, foi capaz de construir, em plena Campanha do século XIX, um aglomerado urbano que oferecia moradia, cultura, lazer e consumo aos operários de suas indústrias de carne. No complexo da Charqueada Santa Thereza, em sua residência, o visconde recebia pessoas ilustres, como o escritor Olavo Bilac. Ele mantinha na "Vila Operária" cerca de mil pessoas, entre trabalhadores e seus familiares, em casas de alvenaria. Uma usina produzia luz elétrica. Havia ainda hospital, armazém, alfaiataria, carpintaria, fábricas de adubo e de ladrilho hidráulico e uma estação de trem. A pequena capela católica foi construída em homenagem a Santa Thereza D’Ávila, para cumprir promessa feita por dona Thereza, esposa do visconde. O dia da inauguração, 15 de outubro de 1908, foi escolhido por ser o de nascimento da santa. O projeto de revitalização do complexo, elaborado pelo arquiteto e professor da Uniritter, Flávio Kiefer, passa pela restauração da capela e do coreto, além de tratamento paisagístico e luminotécnico da área. Também serão construídos um teatro em estilo contemporâneo para cem pessoas e um memorial, montado na casa em que morava um dos filhos do visconde. Nele estará registrada a história da charqueada e de seus habitantes. Os recursos para as restaurações são de diversas empresas, através das leis Rouanet e de Incentivo à Cultura.

 

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A guerra civil de 1893-1895

O Rio Grande do Sul entrou na fase do conflito armado a partir de fevereiro de 1893. A guerra civil durou exatos 31 meses, até agosto de 1895. Morreram cerca de 12 mil pessoas, numa população estimada de um milhão de sul-rio-grandenses.

É considerada a mais bárbara das revoluções americanas, não só pelo número de mortos, mas pela brutalidade e extensão do conflito que incluiu a eliminação quase completa dos prisioneiros, que eram degolados (na foto, o célebre degolador Adão Latorre exibe a sua perícia macabra) impiedosamente pelo adversário, de ambos os lados. Existem relatos de que cerca de trezentos prisioneiros de determinada batalha tenham sido degolados após cessados os combates. Não existiam prisioneiros de guerra, neste sentido.

A guerra civil de 1893 resultou do conflito de dois setores bem identificados da elite político-econômica sulina. De um lado, os federalistas (ou maragatos, ou quero-queros, ou gasparistas), de outro, os republicanos (ou chimangos, ou pica-paus, ou castilhistas). De um lado o retórico, vaidoso e tagarela Gaspar da Silveira Martins, que segundo o insuspeito historiador oficialista Darcy Azambuja, não tinha “maiores preocupações doutrinárias” e o máximo de pensamento a que alcançou resume-se numa frase tola: “idéias não são metais que se fundem”. De outro, Júlio de Castilhos, um convicto positivista comtiano, liderança forte e com objetivos definidos, marcado por planos universalizantes do papel do Estado e sobretudo pela busca da modernização das relações sociais, tudo isso embalado numa personalidade austera e incorruptível, uma espécie de Robespierre pampeano.

Todos sabem que venceu o grupo castilhista, representado pelo Partido Republicano Rio-grandense (PRR). Castilhos foi sucedido em 1898 por Borges de Medeiros, da mesma linhagem castilhista-comtiana, que saiu do poder somente em 1928. A revolução de 93 ainda teria recaídas em 1923 e 1924, sempre com os mesmos antagonistas de classe e os mesmos motivos sócio-econômicos e de poder.

Que rivalidades tão profundas eram essas?

É o velho e eterno embate entre o moderno e o arcaico. Curiosamente, um líder saído deste “laboratório” meridional da modernidade brasileira, Getúlio Vargas, um militante do PRR, é que vai promover a partir de 1930 um novo Brasil, mais ajustado às exigências do século 20. No Rio Grande do Sul, no final do século 19, se gestou, então, com muita dor e sangue, o que viria a ser o País em grande parte do século 20, pelo menos – segundo alguns estudiosos – até o advento de Collor e Fernando Henrique, que cortam em definitivo as amarras sócio-institucionais criadas e mantidas pela Era Vargas (1930-1954).

A vanguarda republicano-castilhistas-borgistas (chimangos) fez a parte da revolução burguesa no País. Florestan Fernandes diz que “a Revolução Burguesa [brasileira] não constitui um episódio histórico” definido singularmente, marcado e datado. O caso brasileiro, segundo Florestan, foi um longo processo de absorção de “um padrão estrutural e dinâmico de organização da economia, da sociedade e da cultura”. Já no Rio Grande, a revolução de 93 é o ponto – sim – inaugural da revolução burguesa na região mais meridional do Brasil.

 

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Adão Latorre

Tenente Coronel Adão Latorre foi um revolucionário Maragato (ou Gasparistas) que lutou na Revolução Federalista, refrega de bala e facão onde os Federalistas queriam apear do poder Júlio de Castilhos. Adão foi famoso, entre outras coisas, além da bravura mostrada em batalha, pela seu plantel de degolas, que era como na época se resolviam a questã dos indesejados e dispendiosos prisioneiros, pois balas e pólvora custavam caro é eram deixadas para as escaramuças "de verdade" e as cordas eram usadas para outros fins e aqui no sul, não é sempre que se acha uma adequada para enforcar (além de ser trabalhoso).

A história mais famosa do preto Adão foi a degola do Rio Negro, onde Adão degolou mais de 300 Chimangos (como eram chamados os governistas em 1923- Chimango - Milvago chimango Vieillot 1816 - é uma ave de rapina ocorrente no Rio Grande do Sul - antes eram chamados de Castilhistas ou Pica-paus) depois da Batalha do Rio Negro, no local chamado Potreiro das Almas, aqui pela volta de Bagé (aqui também Bagé) e Hulha Negra.

E sim, correm histórias aqui em Bagé, que a noite, no Potreiro das Almas, os corajosos que lá vão conseguem escutar os lamentos dos degolados.

O troço, a degola do Rio Negro, ocorreu em 23 de novembro de 1893. Sim, é um episódio controverso, tanto na autoria quanto nos números. Tarcísio Taborda, historiador bageense, conta trinta execuções e alguns pesquisadores, concluem que Adão por ser "pobre e preto" (sic.) levou a culpa. O que podemos ter certeza, era que as degolas ocorriam de ambos os lados. Contam histórias que algumas eram até precedidas de castração e existia até a modalidade de corrida de degolados. Criativos. Mas uma certeza é que Adão Latorre morreu metralhado aos 83 anos durante a revolução de 1923 (falarei mais outra hora), próximo a Dom Pedrito. Sim, você leu certo. Ele morreu lutando aos 83 anos. Sejam 30 ou trezentos degolados, o sujeito era macho. Só de metranca mesmo para parar o preto Adão.

 

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A verdadeira história da Pedra da Lua


Recentemente o escritor Fabrício Carpinejar esteve em Bagé para escrever uma matéria a respeito da Pedra da Lua. Em seu texto ele afirma que o objeto é o maior patrimônio cultural da cidade.
Com toda a certeza não é, mas é uma inequívoca geradora de polêmica. Quando o patrimônio histórico de Bagé – o acervo do Museu Dom Diogo de Souza – corria risco de danos irrecuperáveis por causa do estado do prédio que o abriga, correu o boato que a pedra poderia ser vendida. Tudo por causa de um comentário, feito por brincadeira, pelo reitor da Urcamp na época, Morvan Ferrugem. Jamais ele teve a intenção de vender a pedra. E, de fato, não poderia, mas a polêmica se criou. Daí, vieram comentários suplementares questionando, até mesmo, a sua real existência. Mais polêmicas. Com efeito, como afirmou Carpinejar, a cobiça do mercado negro empurrou para as alturas o valor da pedra. Diga-se de passagem, que esse valor de muitos milhões não existia quando foi dada de presente, por Richard Nixon, para o ex-presidente Emílio Medici. E é aí que começa a história. O advogado Fernando Sérgio Lobato Dias, que dedicou 30 anos de trabalho ao Banco do Brasil e hoje advoga por amor à profissão, é quem conta. Por circunstâncias familiares ele tornou-se amigo de Medici e por diversas vezes advogou para o ex-presidente e sua família. Lá pelos idos de 1974 ou 1975, em uma visita do advogado à Estância Nova, propriedade rural do ex-presidente em Dom Pedrito, para tratar de assuntos profissionais, começou a se delinear o destino daquele pedaço de Lua. Já perto do almoço, o trabalho foi interrompido e substituído pelo mate. Na varanda da estância travou-se o seguinte diálogo:
Diálogo
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-Tu já viste a minha sala de lembranças? Perguntou Medici ao advogado.
Ante a negativa de Lobato Dias a sala lhe foi mostrada por Dona Scylla, esposa de Medici. Ao retornar à varanda, outra pergunta:
-O quê tu escolheste?
Lobato Dias rebateu com uma proposta inesperada.
-Tenho um pedido para lhe fazer.
-Faça! Respondeu o ex-presidente.
-Quero a Pedra da Lua!
Doação
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Surpreso, Medici perguntou o que o advogado pretendia. Lobato Dias sugeriu que a pedra fosse dada ao Museu Dom Diogo de Souza que estava sob os cuidados de seu criador, Tarcísio Taborda. Maravilha. Medici gostava muito de Taborda. Haviam sido vizinhos e o pequeno Tarcísio pedia voltinhas no cavalo do então capitão de cavalaria. Tinham um passado de boas lembranças. Lobato Dias queria que a doação fosse feita em ato formal. Medici se opôs e, para, solucionar a questão, o advogado levou Tarcísio à estância onde lhe foi entregue o fragmento lunar. Após as despedidas, Lobato Dias e Tarcísio retornaram a Bagé com o presente embrulhado em papel, sem escolta policial nem aparato de segurança. Não era necessário. A partir daquele momento um pedacinho da Lua fincava raízes em Bagé, a mesma Lua que Sepé Tiaraju tinha simbolizada em si mesmo. Lobato Dias esclarece que, na verdade, Nixon deu duas pedras da Lua. Uma para o povo brasileiro, que foi doada pelo então presidente Medici ao Museu Nacional (RJ). A outra foi um presente pessoal ao presidente e é justamente esta, que foi doada ao museu de Bagé. O objeto hoje é raro e deve se tornar motivo de visitação mais frequente. Não tanto pelo seu tamanho ou aparência, mas pela história que representa. Lobato Dias lançou uma flecha certeira ao escolher a pedra naquela sala. Com suas palavras, sugeriu a doação. Seu senso de oportunidade foi bem aproveitado. “Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida" (Provérbio Chinês).

 

 

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1683 - Durante o domínio espanhol, os missionários jesuítas vindos de Buenos Aires fundam a Redução de São André dos Guenoas, na região onde hoje se localiza o município de Bagé.

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1752 - Após a assinatura do Tratado de Madrid, em 1750, a comissão mista hispano portuguesa inicia o trabalho para demarcar a nova fronteira de Castilhos Grande (próximo o Forte de Santa Teresa) até as cabeceiras do Rio Negro, em Santa Tecla, próximo a atual cidade de Bagé

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1801 - Para que não houvesse possibilidades de os espanhóis voltarem a ocupar esta região, o governo português passa a fazer doações de sesmarias para fazenda de criação de gado, o que representa a conquista econômica e ao mesmo tempo resguarda as fronteiras do sul do país.

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1811 -irrompe no interior do Uruguai um movimento generalizado e espontâneo, chefiado por Artigas, contraos espanhóis Dona Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI, consegue de seu esposo a ordem para que as forças Luso-brasileiras, concentradas ao longo das fronteiras do Rio Grande do Sul, penetrem em terras castelhanas para cooperar com os exércitos monarquistas espanhóis sitiados em Montevidéo.
Foi assim que Don Diogo de Souza inicia sua campanha à frente do denominado “Exército Pacificador da Banda Oriental”, acampando por um tempo relativamente longo aos pés dos Cerros de Bagé. O exército comandado por ele tinha três mil homens, uma parte pertencente à força que transmigrara para o Brasil, outra, os Dragões e uma terceira, o Regimento de Cavalaria Ligeira Sul Rio-grandense.

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1845 - Finalmente na região do Poncho Verde, estavam reunidos os Imperiais e os Farroupilhas. Foi difícil reunir os Chefes Farroupilhas, mas Caxias intercedeu para insistir na obtenção da Paz. No dia 25 de fevereiro de 1845, conseguiram os farrapos ter sua reunião, sob a presidência de David Canabarro. Assim que Caxias recebeu os documentos assinados pelos farroupilhas, lançou sua Proclamação aos Rio-grandenses, datada de 01 de março de 1845. No início de março, Caxias entra em Bagé com seu Estado-Maior e um grande número de oficiais, entre os quais o Coronel João da Silva Tavares. No dia. Dois dias depois, é a vez de Bento Gonçalves e Antônio de Souza Netto. Houve muita festa com luminárias, bailes, Te-Deum e fogos.

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1860 – Em 10 de setembro é publicado o primeiro jornal de Bagé – Aurora de Bagé, de propriedade de Isidoro Paulo de Oliveira, que circula todas as terças, quintas e domingos.

 

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O CERCO DE BAGÉ DURANTE A REVOLUÇÃO FEDERALISTA

Durante a Revolução Federalista, desencadeada no Rio Grande do Sul em oposição ao governo de Floriano Peixoto, a cidade de Bagé resistiu ao cerco das forças federalistas durante 47 dias, em um dos mais notáveis episódios da História Militar brasileira.

Entre novembro de 1893 e janeiro de 1894, os republicanos, comandados pelo coronel Carlos Maria Silva Telles, buscaram abrigo na Catedral São Sebastião. Os antigos moradores de Bagé presenciaram de camarote um dos muitos episódios sangrentos que tornaram a Revolução Federalista. uma das mais violentas da história do Rio Grande do Sul e do Brasil.
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Bagé era um objetivo importante, pois uma das maiores cidades do Estado, sediava uma importante guarnição militar, tinha ligação por trem com Rio Grande e situava-se em posição estratégica em relação à Campanha e à fronteira. Além disso, era a terra dos Tavares e de Silveira Martins, principais lideranças maragatas, que faziam de Bagé um dos centros da conspiração e sede do Partido Federalista, uma das frentes de oposição à Júlio de Castilhos.

Natural, portanto, que, ao primeiro refluxo dos rebeldes, os republicanos tratassem de assegurar o controle da cidade. Natural, também, que fosse Bagé o primeiro alvo do general Joca Tavares em seu retorno ao Brasil, depois de refazer suas forças em território uruguaio. Ele retorna em novembro de 1893, à frente de quase três mil combatentes e ataca em duas frentes. De um lado, Zeca Tavares, seu irmão, toma a estação ferroviária de Rio Negro, a 20 quilômetros da cidade, guarnecida por 500 soldados comandados pelo general Isidoro Fernandes. A outra frente cerca a cidade. Desde o dia 24 de novembro era possível avistar os piquetes de lanceiros federalistas da cidade, defendida por pouco mais de mil combatentes, sob as ordens do coronel Carlos Maria da Silva Telles. A população, pouco mais de 20 mil moradores, foge da cidade levando o que é possível.

O coronel Telles se prepara para o pior: requisita a comida disponível no comércio, manda construir trincheiras ao redor da praça e concentra ali a resistência. Nas bocas de rua, arma barreiras com fardos de lã, terra, pedras e paus.

Durante quase um mês, os federalistas mantêm o cerco à distância e depois apertam. Ocupam chácaras do subúrbio e entram na cidade. Tomam o Teatro 28 de setembro, a Beneficência Italiana, o Mercado Público, os quartéis, a Rua Barão do Rio Branco e a Enfermaria Militar. Em poucos dias toda a cidade é dominada, menos a Praça da Matriz.

Telles dispunha de batalhão e um regimento de Artilharia, uma companhia de engenheiros, um batalhão da Brigada Militar e um corpo de transporte, comandado por Bento Gonçalves da Silva Filho (filho do líder farroupilha).

Tinha também dois corpos provisórios, gente da Guarda Aduaneira e, a partir do momento em que apertou o cerco, um “batalhão republicano”, com voluntários civis. O coronel tem ordens expressas de Floriano Peixoto para resistir até o fim.

Corre na cidade sitiada uma notícia apavorante: as forças de Isidoro Fernandes haviam sido massacradas no Rio Negro, com mais de trezentos prisioneiros degolados. Começa a faltar comida, há deserções, as fugas se dão pela zona sul da praça, onde era mais fácil chegar ao cemitério que ficava a 600 metros. Joca Tavares ordena que o cerco se feche num “cinturão de ferro e fogo”. Quando o sítio completa um mês, Joca Tavares manda propor ao coronel Telles que se entregue sob garantias. O coronel responde: “Vocês é quem devem depor as armas, porque estão fora da lei. Garanto a todos a anistia ampla!”.

O natal foi terrível. Atordoada, Bagé enterrava mortos civis atingidos por balas perdidas, chorava as vítimas de violências, saques, incêndios e arrombamentos. Já não havia sequer figos crus e caruru para cozinhar na água e sal. A farinha e as últimas bolachas estavam reservadas para os feridos amontoados na nave central da igreja.

Para aliviar a fome, já se matavam gatos e cães, e o próprio comandante da resistência manda matar seu cavalo para alimentar a tropa. Fome, sede e doenças substituíram a famosa degola na tarefa de abater o inimigo. Quando a situação parecia insuportável, chegam informações de que duas divisões do Exército se aproximam para socorrer Bagé. Com a aproximação dos reforços solicitados pelas tropas legalistas, em cinco de janeiro de 1894, Joca Tavares resolveu promover o ataque final. Derrubando muros e perfurando paredes, os maragatos avançaram. Informado da ação, o coronel Carlos Telles antecipou a defesa, colocando abaixo paredes de dois prédios que ainda não haviam sido alcançados pelos rebeldes. O tiroteio foi intenso até que os legalistas dispararam os canhões e uma descarga de granadas contra a linha federalista.

Na noite de sete de janeiro, começa a ser desfeito o cerco, e os federalistas seguem desolados para Santana do Livramento. Antes de o dia raiar, um vulto se aproxima das trincheiras, solitário, e diz aos cansados e famintos soldados: “Bom dia! os revolucionários deixaram a cidade”. Eles haviam resistido 47 dias de cerco. Telles envia um telegrama ao ministro da Guerra: “Tivemos o desprazer de vê-los em debandada e mal montados, sem terem tentado o ataque decisivo pelo qual tanto ansiávamos...”. No seu boletim, registrou 34 mortos (quatro oficiais) e 91 feridos.


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Postado por Carlos Daróz às 17:42 Nenhum comentário:
Marcadores: Período Republicano, Revolução Federalista

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